quinta-feira, 23 de julho de 2015

Eterno - Quem perde um filho, perde-se. Não tem direito a nome.

A dor de perder um filho não tem igual. Nenhuma outra perda pode ser comparada. O sofrimento é de tal magnitude que nem existe uma palavra para o dizer. Alguém que perde um ou ambos os pais é órfão. Sem o cônjuge é viúvo/a. Quem perde um filho perde-se. Não tem direito a nome. Entra num universo paralelo, na dimensão das coisas inomináveis que existem mas não têm denominação, no mundo dos fantasmas que assombram e perseguem, preenchendo casas que ficam eternamente vazias. E em silêncio. Nesse tenebroso silêncio de uma dor que não se pode chamar. E que, desse modo, sobre a qual não se pode falar, partilhar, dividir, aliviar, confortar. Ou, no limite, sequer pensar.
Todo o luto, por um amigo, por um avô, por uma mãe, é doloroso e, por vezes, longo. Mas o luto por um filho, o velar mais antinatura que existe, a rutura com o regular ciclo vital do ser humano, é como caminhar sobre água – impossível. Pode continuar-se o dia a dia, até existirem outros filhos, natais, aniversários e fins de ano, manhãs e pores do sol, mas nunca se chega a uma cicatriz. Perder um filho é, para o resto da vida, uma chaga em carne viva. Uma sangria. Ao contrário do que se diz, há insubstituíveis. E dores lancinantes que nunca passam. A saudade é uma menina.

Fonte: http://www.cmjornal.xl.pt/opiniao/colunistas/joana_amaral_dias/detalhe/eterno.html

Sem comentários:

Enviar um comentário