Existirá alguma forma de nos prepararmos para a maternidade? Uma escola de mães, um curso intensivo, livros escritos por especialistas, revistas? Sem dúvida que sim. Mas nenhum deles substitui a capacidade de cada mulher e o seu instinto para se tornar numa mãe preparada para tudo.
As mulheres estão preparadas para ser mães muito antes da gravidez. A maternidade faz parte do arquétipo feminino e não há menina que não tenha brincado às bonecas ou embalando um Nenuco, dando asas a um instinto que é inato e espontâneo. A preparação para a maternidade tem, por isso, muito mais a ver com a logística do que com os afectos. E se é verdade que depois de ser mãe a vida nunca mais é a mesma, é igualmente verdade que a preparação não é feita à priori — como quem se prepara para um exame ou para um teste — mas pouco a pouco, no dia-a-dia, adaptando as rotinas ao novo ser que enche a casa.Ser mãe implica, antes de mais, dedicação e disponibilidade. Por isso, se está habituada a viver sem horários, a tomar decisões de última hora ou a ficar no escritório até às tantas da noite, prepare-se para uma reviravolta total. A partir do momento em que for mãe, os horários passarão a ser em função do bebé. Isto não significa que tenha de haver horas para tudo, mas não há dúvida que terá de estar disponível não só para as rotinas, como para os imprevistos que surgem sem hora marcada.
As decisões de última hora, por outro lado, deixam de ser possíveis. Decidir um fim de semana de véspera, partir para férias sem nada marcado ou ir ao cinema daí a meia hora tornam-se oportunidades cada vez mais raras e é necessário planear uma série de coisas antes de poder sair porta fora. Quanto ao trabalho, dificilmente quererá ficar a fazer horas extraordinárias. E mesmo que às vezes pareça impossível conciliar a vida profissional com a vida familiar, é fundamental encontrar um equilíbrio justo para ambas as partes. A maternidade não implica que tenha de desistir da sua carreira profissional — muitas mulheres adiam o nascimento dos filhos por causa disso —, mas tem de estar preparada para alterar as prioridades, se isso vier a ser necessário.
É que preparar-se para ser mãe implica, também, preparar-se para viver em função de outro ser a cem por cento, pelo menos durante uns bons anos. Ou seja, significa estar disponível 24 horas por dia. Teoricamente, a ideia pode parecer exagerada. Mas, por exemplo, se acha que durante os meses da licença de parto vai ter tempo para fazer coisas que tem pendentes há anos, esqueça porque o mais provável é que também não consiga fazê-las agora. Porque, na prática, com as coisas que tem para fazer em casa, os cuidados com o bebé e o tempo de descanso (que também precisa!), não vai achar tão fácil gerir o seu tempo. No entanto, não desanime porque o que vai querer é estar com o seu bebé e tudo o resto passará a ser secundário.
É verdade que a disponibilidade tem de ser maior nos primeiros meses, ou mesmo nos primeiros anos de vida. Mas não tenha ilusões de que quando eles crescerem, já não vai ser necessária... Ser mãe é muito mais do que ter tempo para dar banho, dar de mamar, mudar fraldas ou contar uma história. Ser mãe é um estado de espírito, uma luz que se liga e que não são se desliga quando queremos dormir; é um compromisso para o resto da vida. Há muitas mulheres que não imaginam até que ponto a maternidade lhes vai mudar o rumo da vida, a opinião que têm sobre certos assuntos, a forma de estarem no mundo, por vezes até as convicções mais profundas.
Por mais preparadas que estejam, por mais que leiam sobre o assunto, que perguntem às amigas que já foram mães, que frequentem escolas de pais, só vão descobrir verdadeiramente o que é a maternidade quando tiverem o seu primeiro filho. É, por isso, importante que saibam que a maternidade não é sempre e só um mar de rosas. Ser mãe, por vezes, é muito difícil. Ser mãe gera ansiedades, por vezes remorsos e culpa. Ser mãe exige uma energia que nem sempre sabemos onde vamos buscar. Uma capacidade constante de reinventar o mundo e as coisas, uma paciência de santa! Ser mãe tira tempo para gastar consigo, obriga a fazer concessões, a medir prós e contras. Ser mãe até chega a tirar o sono. Faz passar horas e horas a pensar em soluções para vários assuntos, a procurar a melhor escola, a reorganizar o dia-a-dia...
Outro aspecto que raramente temos em conta antes de sermos mães é como será o futuro da relação com o pai do bebé, agora que a dupla amorosa passou a triângulo. Achar que um filho vem fortalecer, cimentar e adoçar as relações de um casal pode ser um engano terrível, pois nem sempre é assim. É evidente que, se o bebé tiver sido planeado e desejado pelo pai e pela mãe, as condições para que a história seja feliz serão maiores. Mas é ajuizado contar com o desgaste que a chegada de um filho provoca. Contar com o cansaço das noites em branco, com as solicitações constantes de quem depende dos outros para fazer o que quer que seja, com a gestão dos ciúmes que um terceiro elemento provoca. Muitos casais estão convencidos que a vinda de um filho completa a felicidade e os planos que fizeram para o futuro. E não há dúvida que isso é verdade. Mas precisam de se convencer que também haverá dias em que a pressão vai ser maior, dias em que vão discutir o que cada um fez ou deixou de fazer, momentos em que lhes podem sentir que aquele filho se meteu entre os dois e que nada, na relação, voltou a ser como era.
Pois é, as relações mudam quando temos um filho. Preparar-se para a maternidade é, assim, preparar-se também para encarar a relação desde outro ponto de vista. O que não significa ter de abdicar do amor, dos momentos a sós, da cumplicidade, dos compromissos. Apenas é necessário estar preparado para olhar para tudo de outra maneira. Os casais com relações estáveis e bem estruturadas raramente se abalam com a vinda de um filho.
Finalmente, preparar-se para ser mãe é, acima e antes de tudo, preparar-se para amar sem condições. Para dar, para partilhar, para cantar canções de embalar, para ter colo, braços e mãos para os filhos, para os ensinar a crescer da melhor forma possível, para os ouvir, para os saber mandar calar quando é preciso... e para os tornar pessoas felizes.
Fonte: www.mimosa.com.pt
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